segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Corpo em movimento

Terça, 02  de Fevereiro de 1993

  Ontem fui ao trabalho da minha mãe, nós almoçamos e saímos pra comprar o meu material escolar, duas calças jeans, uma quase mini-saia (a direção da escola pega no pé com o tamanho das saias)  e as “lindas” blusas de uniforme.
    Depois as minhas aulas de Ballet recomeçaram e eu fui pra academia. 
    Os meus colegas e eu caímos na bobeira de dizer a nossa  professora que estávamos com saudade do Ballet e ela falou pra repetirmos isso no final da aula. 
Resultado: cinquenta minutos de alongamento e exercícios na barra e quarenta minutos praticando as cinco posições, básicas, do clássico e  variações (eu faço ballet moderno). Ainda bem que eu pratiquei nas férias, mas mesmo assim sai da academia exausta.
    Hoje a tarde fui pro conservatório recomeçar as minhas aulas de piano. Sempre quis estudar piano, e comecei o ano passado, só que aí meu pai perdeu o emprego e as coisas ficaram ruins aqui em casa, só continuei o Ballet porque é a minha avó quem paga. Meu pai ficou desorientado e a minha mãe teve de dar conta de todas as despesas, ela sempre ganhou mais e sei que ele sofre com isso, imagina então desempregado. Meu pai ficou mal-humorado, nervoso e brigava o tempo todo comigo, era um inferno, ainda bem que depois de quatro meses ele conseguiu esse trabalho no Objetivo e as coisas voltaram ao normal. Meu pai também estuda no Conservatório, faz violão a um bom tempo e toca muito bem, o sonho dele é trabalhar com música, tenho certeza que ele ainda vai conseguir.
    Mas voltando ao conservatório, hoje encontrei com o Henrique, tinha esquecido que ele também estuda lá. Estava no corredor esperando a aula começar quando ouvi alguém tocar “Vai Passar” do Chico, estava bonito e eu sentei nas escadas em frente à sala pra ouvir, só que de repente a música parou e ele abriu a porta. Levei o maior susto, mas parece que ele se assustou ainda mais, pois me olhou com uma cara de espanto, mas pelo menos me cumprimentou e perguntou se eu tinha visto o Mauricio, que deve ser o professor dele. Agora me diz se não é muito azar, além de encontrar esse menino todos os dias na escola (minhas aulas começam semana que vem, snif...), ainda vou ter de esbarrar com ele duas vezes por semana no conservatório. 
    Obs. Aula teórica é uma chatice, mas a professora parece ser legal.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

"Não se afobe não que nada é pra já"

Sábado, 30 de Janeiro de 1993

     A tarde fui com a Bel e a     Renata pra casa do Mun-há, estava o mesmo pessoal da última vez, inclusive o Marco, pra minha felicidade, e mais tarde chegaram o Andre e a Luana. Foi divertidíssimo, nós nadamos e jogamos vôlei na piscina, muito engraçado. Gosto de ver os meninos de sunga, o Marco é magro, mas não demais e tem um corpo bonito. É claro que não olho muito pra não dar bandeira e que como sempre fiquei morrendo de vergonha de usar biquíni perto dele, mas nós rimos e brincamos tanto que eu até esqueci.
     Depois pra variar os meninos ficaram grudados no vídeo game e as meninas tomando sol na piscina e a Luana me perguntou se estou namorando com o Marco. Respondi que não, mas que já ficamos uma porção de vezes e ela disse que com o Andre também começou assim e que eles acabaram namorando. Gostaria muito que isso acontecesse com a gente, mas só posso esperar pra ver e claro: aproveitar todos os momentos ao lado dele.

"Não se afobe, não. Que nada é pra Já. O amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio..." (Chico Buarque)
Domingo, 31 de Janeiro de 1993

      De manhã fui ao clube com a minha mãe e a Juliana e a Andreia (minhas vizinhas) estavam lá. A Renata e a Bel chegaram, mais ou menos uma hora depois, e nos fomos na sauna e depois nadar.
     A Ju nunca fica com a gente na piscina, o problema é que ela é bem gordinha e morre de vergonha de usar biquíni. Eu também me acho gordinha (apesar das minhas amigas dizerem que é piração da minha cabeça), ainda mais quando fico um mês sem dançar, me sinto uma baleia, mas sei que o caso da Ju é muito mais sério. Por estar acima do peso ela não tem coragem de olhar pros meninos e nunca paquerou ninguém, ela vive de regime, mas não consegue emagrecer nada, queria poder ajudar, a Ju é muito legal, mas não sei como...
     A tarde fui patinar na praça com as meninas, depois a Renata sai com o Alessandro e a Sisa e a Bel vieram aqui pra casa. Ficamos até a noite conversando, a Sisa disse que está apaixonada pelo Paulo, mas como todo mês ela se apaixona por um menino diferente a gente não leva mais a sério, e a Bel estava indignada porque ontem deu mole pro Teo o dia todo e ele não fez nada. Ah, ela também falou que ontem na hora que eu estava saindo do Mun-há com o Marco, o Henrique não tirava os olhos de mim.
     Ela só pode estar ficando louca, o Henrique não dá a mínima pra mim e nem eu pra ele, o que pra mim está ótimo, até porque cada vez que encontro esse garoto acho ele ainda mais chato, metido e arrogante. Pedi pra Bel parar com isso porque a Renata vai ficar chateada, não entendo como ela quer ficar com um menino assim, ela merece coisa melhor.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Homem Nu


Sexta, 29 de Janeiro de 1993

     Diário, não fiz nada demais essa semana, só fiquei em casa me alongando e lendo muito. Ontem terminei o livro, ele acaba de um jeito triste, mas também com uma mensagem de coragem, liberdade e esperança muito forte. Simplesmente maravilhoso!
   Ontem nós queríamos ir patinar, mas estava todo mundo sem dinheiro... e hoje fui com as meninas na Renata ver Tomates Verdes Fritos, as meninas ainda não tinham assistido e foi a maior choradeira, eu já tinha visto, mas chorei de novo, este é definitivamente um dos meus filmes favoritos! Nós estávamos indo embora, quando o irmão da Renata chegou e na hora eu fiquei vermelha. Não consigo falar com ele sem ficar muito sem graça (ele até comentou com a Renata que sou a amiga mais tímida dela), mas o que ele não sabe e não pode saber nunca é o que a gente fez o ano passado.
      O Rogério tem vinte anos e é muito, muito gato, ele é alto, tem um corpo bonito, uma carinha linda e a gente sempre babou por ele, aí em Novembro nós estávamos no quarto da Renata ouvindo música, quando ele chegou da faculdade e veio falar com a gente. Assim que ele saiu, ouvimos o barulho do chuveiro e a Renata perguntou se já tínhamos visto um homem nu, ela contou que já espionou o irmão tomando banho várias vezes e nos não resistimos e fomos espiar também.
     O banheiro do Rogério tem uma janela alta e estreita e nos subimos em escadinha de metal, com quatro degraus, primeiro foi a Bel, depois eu e por último a Sisa. Eu achei bonito o corpo dele, molhado, forte e bem branquinho. A palavra certa nem é bonito e sim fascinante, não conseguia parar de olhar as costas largas, a bunda, as pernas, mas achei estranho aquela coisa mole, balançando, olhar pro pênis dele me dava tanta vergonha que nem fiquei muito tempo, mas o pior foi a Sisa, assim que subiu, a tonta deu uma desequilibrada que eu fechei os olhos e comecei a rezar, ainda bem que ela se equilibrou, desceu rapidinho e ninguém viu nada. Se a Sisa tivesse caído e ele pegasse a gente eu nunca mais voltava na Renata, ou melhor: eu nunca mais saia de casa.
   Depois disso nos voltamos pro quarto da Renata e ficamos falando baixinho e rindo muito, a Sisa estava vermelha igual um pimentão e na hora de ir embora ninguém teve coragem de olhar direito pro menino. Mas tem outra coisa que eu só posso confessar pra você, depois desse dia eu passei semanas pensando no Rogério, imaginando como seria tocar aquela pele nua e perfeitamente branca... tive até um sonho que DEFINITIVAMENTE eu não vou comentar e que só de lembrar já me deixa morrendo de vergonha. Por isso é melhor que ele pense que eu sou ainda mais tímida do que eu sou de verdade.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Um corpo a corpo com o destino

Sábado, 23  de  Janeiro de 1993


"O JOGO  É UM CORPO A CORPO  COM O DESTINO"

     A noite fui ao boliche com o Marco, a Renata, o Jaques, o Teo, a Bel e o Paulo. Foi a maior negociação aqui em casa, meus pais queriam que eu voltasse as dez e meia os pais da Renata deixaram ela ficar até as onze. O que significava que a minha mãe ia me buscar, a última coisa que eu queria no mundo!     
     Tive de pedir, chorar, implorar pra me deixarem voltar com a Renata, mas eles disseram que não preciso pedir pra sair a noite tão cedo, sei que eles estão falando sério e por isso  tentei aproveitar ao máximo.
     O Strike, o lugar que a gente foi é  muito legal e além das pistas de boliche tem uma lanchonete meio futurista, adorei. Eu nunca tinha jogado e o Marco foi me ensinar, nós rimos muito e eu paguei uns micos enormes, mas fui melhorando aos poucos e até fiz um único e "fabuloso" strike. 
     Depois fomos comer e ficamos zoando das mancadas uns dos outros. Eu realmente adoro sair com o Marco, as coisas ao lado dele ficam melhores e mais divertidas. Não sei se ele senti o mesmo, mas espero que sim, afinal ele me chamou pra sair dois dias seguidos, então deve estar gostando...
     Pena que o pai da Renata foi pontual e as onze nos viramos abóbora, os meninos que não tinham de chegar cedo em casa iam jogar mais um tempo, fiquei com inveja deles. Nem vou entrar no assunto da desigualdade de tratamento entre meninos e meninas pra não azedar minha noite...
     No carro nós estávamos loucas pra conversar, mas não dava pra comentar nada perto do Olavo. Tudo bem amanhã a gente se vinga e fofoca tudo o que tem direito. 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Vejo flores em você

    Sexta, 22 de Janeiro de 1993

   Hoje à tarde fui com o Marco ao shopping. Tive de dizer aqui em casa que ia com as minhas amigas e avisei a elas pra não darem sinal de vida. Quando cheguei no cinema ele já estava me esperando, tentei ficar calma, mas minhas mãos estavam geladas. Fiquei repetindo pra mim mesma relaxa, relaxa, mas eu simplesmente não conseguia ficar a vontade e tinha de me segurar pra não roer as unhas (uma mania horrorosa! Eu sei).
     Nós compramos as entradas com ele lindo e descontraído do meu lado e eu com as pernas duras e um sorriso amarelo incompreensível até mesmo pra mim, a rainha da timidez. Pra piorar, lógico que ele notou meu nervosismo e brincou que eu não precisava ficar emocionada perto dele (quis morrer de vergonha!). 
     O cinema estava quase vazio, mas só quando o filme começou, e ele pegou na minha mão, foi que eu me toquei que era a primeira vez que nos ficávamos sozinhos, sem ninguém por perto, e que ficar assim me deixava ainda mais  nervosa (o que eu não imaginei que fosse possível).
     Vimos um filme de terror (“romântico” não é mesmo?) daqueles que te deixa aflita e com os nervos à flor da pele e, aos poucos, eu fui me ligando na história e me acalmando. Sem falar que era bom ter alguém me abraçando,  segurando firme na minha mão, quando eu levava um susto, e me beijando até acabarem os créditos e as luzes se acenderem.
     Depois do filme fomos tomar sorvete. Muito sorvete. O Marco é uma das pessoas de quem eu mais gosto de estar perto, ele é charmoso, engraçado, inteligente, sem falar que do lado dele eu fico rindo feito boba e que as meninas estão na maior torcida pra gente namorar.
    Acho que ia ser bom namorar com ele, que a gente ia se  divertir muito juntos, mas não quero ficar sonhando com coisas que podem nunca acontecer... por hoje eu já fico feliz em descobrir uma coisa simples que eu sempre quis saber: Como uma garota se senti ao ir no cinema com o cara que ela gosta.