quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Réveillon 93

Sexta, 01 de Janeiro de 1993



Minha noite de réveillon foi definitivamente deprimente. Passei em um restaurante com meus pais, minha avó, o “amigo” dela e alguns amigos deles. O restaurante é ótimo, só que não tinha ninguém da minha idade pra conversar. Até aí tudo bem, eu gosto de conversar com pessoas mais velhas, o problema é que os assuntos deles eram tão chatos que eu fiquei deslocada. 
Queria ter ido pro Jockey, com a Renata, mas meus pais não deixaram, disseram que era um absurdo não comemorar com a minha avó, que eu valorizo mais meus amigos que a minha família, deram um show...
     A noite só não foi pior porque tinha um menino lindo na mesa ao lado, que não parava de me olhar, mas é claro que a tonta aqui com pai, mãe, avó e mais um monte de estranhos na mesa morria de vergonha de olhar pra ele.
     Detesto ser tímida, toda vez que eu fico com vergonha é como se ligassem um holofote bem na minha cara. Fico igual um rabanete e todo mundo começa a dizer: “Que bonitinho ela está vermelha”... quero sumir. E quando vou conversar com alguém e me dá branco? E quando eu engasgo e acabo fazendo papel de boba? É deprimente!
     Se eu continuar desse jeito nunca vou ficar com ninguém. Tenho quatorze anos, quase quinze e todas as amigas da minha idade já beijaram, menos eu. Me sinto um idiota por causa disso, fico me achando feia, gorda, sem graça. Minhas amigas dizem que não é nada disso e que o Marco, o menino que eu gosto, é a fim de ficar comigo, só que eu acho difícil de acreditar. Tem horas que ele me olha de um jeito que eu penso que é verdade, mas cinco minutos depois é como se ele só me quisesse como amiga, fico totalmente confusa.
     Sei que isso não é o fim do mundo e que comparado a crise econômica no Brasil ou a criação das repúblicas Checa e Eslóvaquia os meus dramas adolescentes não tem a menor importância. Mas já que resolvi contar a minha história e não um conto de ficção (coisa que pretendo fazer um dia) correrei o risco de ser boba e irrelevante. Pois apesar do fato de eu ser total e completamente virgem não ter a menor importância pra mais ninguém, ele tem toda a importância do mundo pra mim.


Não se incomode. O que a gente pode, pode. O que a gente não pode, explodirá.

Sábado, 02  de Janeiro  de 1993

     Continuando o diário das lamentações (que ao menos deve ser menos úmido que o murro) meu dia de hoje também não foi dos melhores. Minha avó veio almoçar aqui com o chato do Gilmar e eles voltaram a falar sobre o meu aniversário, foi ridículo. Minha avó não se conforma porque eu não quero um baile de quinze anos e simplesmente não para de falar sobre isso. É enlouquecedor! Já disse mil vezes que prefiro sair com os meus amigos, já agradeci educadamente, já expliquei pra minha avó que esse é um desejo dela não meu (o que só fez as coisas piorarem...) agora estou em “greve” de silêncio, eles falam, falam e eu fico calada.
     O problema da minha avó é que ela não aceita ser contrariada. A verdade é que a grande senhora L está tão acostumada a mandar em todo mundo, a controlar todo mundo que não consegue engolir um não. É duro dizer, mas a minha avó sempre mandou em mim também. Primeiro porque eu era muito criança e não entendia direito as coisas, depois porque eu não tinha coragem de dizer não pra ela, mas agora eu tive. Pela primeira vez eu disse NÃO! Você entende o quanto isso foi inédito? Eu disse NÃO pra minha avó e não vou voltar atrás. 
Será que ela é tão cega que não percebe que esse é o sonho dela? Eu só quero ir a pizzaria com os meus amigos, sem essa coisa toda de baile, vestido, valsa que não tem nada haver comigo. Não entendo toda essa empolgação com baile de quinze anos, é só um aniversário, uma data como outra qualquer e não é isso que vai mudar a minha vida. 
Depois que minha avó foi embora a minha mãe disse que eu sei como ser desagradável e ficou me passando sermão. Meu pai até tentou me defender só que aí ela começou a discutir com ele (tudo que eu precisava pra melhorar meu dia...) e me fez fugir pro quarto e pros meus livros, muito mais interessantes.
     Minha mãe diz que eu sou uma piralha mimada, é ofensivo, mas eu até entendo. Sei que eu não vivi quase nada e tenho muito que aprender, o que ela não quer ver e eu não posso dizer (pra não apanhar...) é que a minha avó, nessa história, está sendo tão piralha quanto eu e ainda mais mimada.






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